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Eis que começamos agora, neste exato momento, a mais nova série de matérias deste blog especialíssimo da rede mundial de computadores: Entrevista com o brechozeiro. Abre-parênteses. Qualquer semelhança com o filme estrelando Pitt e Cruise não é mera coincidência não, tá bom? Fecha-parênteses. E para estrear com toda a pompa que o Garimpário merece, convidamos Luan Gonzatti, figurinha carimbada da night florianopolitana e rato de brechó assumido.

 

Luan Gonzatti

 

Luan Gonzatti WHO?

Sabe o loiro de presença das fotos com as nossas camisas originais da década de 80? O mesmo do nosso ensaio fotográfico Youth? Este é Luan!  Basta uma passada de olhos rápida no seu Instagram (pra quem quer dar uma stalkeadinha nada básica, é @luangonzatti) pra notar que o cara tem presença. E não tinha como ser diferente… Até os astros se alinharam pra isso. Real oficial! Luan soma a picância do sol em escorpião, o idealismo do ascendente em aquário, e o protagonismo da lua em leão e materializa tudo em lookinhos incríveis e atitude consciente. É por tudo isso que ele foi o escolhido pra estrear nossa série “Entrevista com o brechozeiro”.

E aí, curios@ pra saber mais sobre essa figura cheia de estilo e receber alguns conselhos pra aprimorar a arte do garimpo? Então confira agora nossa entrevista com Luan Gonzatti:

Entrevista com o brechozeiro: Luan Gonzatti

Cássia – E aí, Luan, tudo bom? Primeiramente quero dizer que quando o Renato e a Manu (proprietários do Garimpário) me falaram da ideia de te entrevistar, fui logo te stalkear um pouquinho nas redes e pô, que massa! Que massa a estética do seu Insta e, claro, seu estilo!

Luan – Oi! Tudo ótimo! Nossa, eu fico muito feliz com o elogio, ainda mais com o meu Insta tão largadinho… Tadinho! Eu sou aquela pessoa que tira milhares de foto do look pra postar e daí no dia seguinte esquece, e depois não posta nunca mais. O que meu celular mais tem são posts esquecidos do Instagram. Mas receber elogios é sempre ótimo! Dá mais vontade de manter a rede atualizada. Eu fiquei muito feliz com esse convite de vocês pra gente ter essa conversa, porque nas coisas que a gente já fez junto eu e a Manu estamos o tempo todo conversando sobre brechó.

Fotografia por Carolina Santa Helena
Cássia – Essas “coisas” que vocês já fizeram junto são os ensaios do Garimpário para o qual você modelou, certo? Como foi a tua experiência posando para o Garimpário?

Luan – Foi tudo! Os editoriais que eu fiz com o Garimpário foram ao lado dos meus melhores amigos, então nem foi como um trabalho, foi um rolê com os migo! O melhor desses editoriais é que eles são bem despretensiosos e tranquilos. É muito fácil conversar com as pessoas da produção e a pessoa que tá fotografando, e assim o trabalho fica bem fluido. A Manu tá sempre disposta a aceitar a opinião dos modelos e tentar as ideias loucas que a gente dá, como pular dentro de uma caçamba cheia de papelão. É por isso que o resultado é sempre tão legal, porque foi construído em colaboração entre toda a equipe, assim todo mundo fica feliz com o resultado final. Eu já participei de dois lookbooks do Garimpário também, apesar de ser uma vibe mais comercial e técnica o clima ainda é o mesmo, de descontração e colaboração. Ser modelo do Garimpário é sempre uma experiência ótima, porque é nada mais que um rolê com os migo, e no fim ainda te dão umas fotos bafo pra postar no Insta.

“[…] num brechó, além de você geralmente estar ajudando alguma instituição que precisa realmente do dinheiro, você acaba encontrando peças que jamais encontraria numa fast fashion. “

Cássia – E qual tua relação com brechó além desta bem evidente com o Garimpário? Fiquei sabendo que você garimpa umas paradas incríveis…

Luan – Eu comecei a minha relação com brechó em 2014. Eu tinha uns amigos que já faziam muito garimpo e não paravam de falar sobre o brechó da Igreja da Trindade, e sobre as pecinhas que tinham achado por lá. Naquela época tudo o que eu queria era uma jaqueta jeans, aí fui lá ver o que eu achava. Não achei a jaqueta, mas achei um mundo novo de possibilidades. É incrível o que, lá, você pode comprar com 20 reais, ainda mais quando você é um universitário com a grana apertada. Depois daquele dia eu praticamente quase não comprei mais roupas em lojas tradicionais, tirando aquelas peças bem específicas. No fim, eu ir a um brechó se tornou igual ir a uma loja mesmo, porque mesmo em lojas tradicionais você tem que garimpar no meio de todas aquelas roupas genéricas. Só que num brechó, além de você geralmente estar ajudando alguma instituição que precisa realmente do dinheiro, você acaba encontrando peças que jamais encontraria numa fast fashion. No final o mais incrível é que o brechó sempre guarda alguma coisa pra todo mundo, se tu tiver paciência pra procurar.

Cássia – Tua escolha por comprar em brechó tem a ver com estilo, consumo consciente ou os dois?

Luan – Tem a ver com os dois com certeza. Num brechó tu encontra peças que tem muita personalidade e história, coisas que você jamais encontraria numa loja tradicional e, principalmente, não no mesmo preço. Por exemplo, em brechó eu já comprei um blazer da Yves Saint Laurent por menos de 30 reais. Quando na vida eu imaginei que isso ia ser possível? Só em brechó! E eu acredito muito no slow fashion. Acho que a gente consome recursos demais do planeta para produzir muita roupa descartável. A sazonalidade da moda acaba gerando muito desperdício pela procura em estar sempre com a peça do momento. O consumo consciente ajuda a gente a ressignificar as peças, às vezes tu nem precisa ir num brechó pra ter uma roupa nova, é só olhar aquela sua pecinha esquecida no guarda-roupa com uma nova perspectiva.

Cássia – Massa! A gente se identifica muito, claro, com isso tudo. E agora conta aí, entrega o ouro, ensina o caminho das pedras: como é o teu processo de garimpo? É que todo brechozeiro de verdade tem uma metodologia, né? Tipo, tu foca em uma peça em específico ou vai na loucuragem e o que cair na rede é peixe?

Luan – Eu sempre penso em algo que seria maravilhoso achar, tipo uma calça assim ou uma jaqueta tal, mas de um modo geral eu vou sempre bem aberto pra o que o universo quiser me mandar. Às vezes ele manda a peça dos teus sonhos e às vezes não manda nada. Saber aceitar e não se frustrar caso não ache nada interessante é fundamental. Eu procuro garimpar numa categoria de cada vez, começando pelo que tiver mais perto da porta. Tipo olho todas as calças, todas as camisas, depois todas as blusinhas e por aí vai. Se for um lugar menos organizado eu vou de pilha em pilha de roupas, procurando. O que garimpar em brechós me ensinou muito ao longo dos anos é que categorizar a roupa por gênero é um fator muito limitante, pois a moda masculina é tradicionalmente limitada. Quando você exclui o gênero da equação, você abre os olhos pras possibilidades infinitas que as roupas tem e fica muito mais fácil achar aquela peça perfeita.

Fotografia por Carolina Santa Helena

“[…] categorizar a roupa por gênero é um fator muito limitante […]”

Cássia – Você é designer, né? Acha que a tua formação influencia no seu olhar sobre os garimpos? Ajuda a diferenciar o que é um super achado e tem mega potencial pra montar um lookão, de peças que não valem a pena?

Luan – Eu acho que ajuda sim, porque repertório visual é tudo nessa vida e como designer eu tô sempre acrescentando mais coisas no meu. Mas eu acho que o fator que mais facilita é afinidade com moda, e construir um repertório de looks mesmo. Eu gosto muito de acompanhar semanas de moda e desfiles, porque sempre tem algo novo, ou alguma peça ou modelagem vintage que volta à cena e te faz entender como é tudo uma questão de styling, que uma roupa ajuda a outra a compor o look e a contar uma história. Quando você tá vendo muita roupa, seja por redes sociais, revistas, desfiles, ou mesmo prestando atenção em como a galera tá se vestindo na rua, seu repertório tá aumentando e torna muito mais fácil bater o olho numa peça de brechó e enxergar o potencial dela.

Cássia – Quais as últimas peças de brechó que você garimpou?

Luan – Foram uma boina rosa bebê e uma camisa de organza azul marinho transparente.

Cássia – E quais você mais gosta?

Luan – Tem tantas que fica até difícil. Acho que seria uma jaqueta que eu comprei do editorial que fiz pro Garimpário, numa vibe bem vintage Versace. Gostei tanto da jaqueta que nem deixei ir pro site. Tem também uma calça de nylon vermelho da Adidas que é um bafo, com zíperes nas laterais que permitem abrir ela inteira. Essa calça eu amo, mas meus amigos já usaram bem mais do que eu (risadas)! Essas são peças que eu amo muito, mas que não dá pra usar todo dia. Das mais cotidianas seriam uma calça vintage de cintura alta da Levi’s que eu uso com tudo, e um cinto de corrente dourada que eu uso de colar, pulseira, choker e o que mais eu imaginar. Tem peças de brechó incríveis nos guarda-roupas dos meus amigos. Eu tenho muito amor por elas  também! Por exemplo, uma amiga tem um quimono japonês maravilhoso que eu peguei pra usar num casamento uma vez, entre outras coisas. Eu e meus amigos temos quase que um armário coletivo. A gente tá o tempo todo se emprestando e trocando coisa.

Fotografia por Carolina Santa Helena
Cássia – Que brechozeiro experiente já deu pra perceber que você é! Agora conta aí como você definiria seu estilo…

Luan – Eu defino o meu estilo como bem fluido, porque eu me visto muito de acordo com o meu humor ou com a vibe que eu quero passar no dia. Tipo, no dia a dia eu tô geralmente bem casual, e é quando eu resolvo sair à noite que o rolê fica realmente interessante. Num dia eu quero estar bem chic e no outro numa vibe mais esportiva. Eu vou do 8 ao 80 bem fácil. Acho que se fosse pra definir uma característica comum a todas as minhas produções, é que eu não gosto de estar muito simples. Gosto de chamar atenção com alguma peça do look, ou com o look todo. Ser básico não é comigo!

Cássia – E o que não pode faltar nesse lookinho bafônico?

Luan – Atitude e originalidade. Pra mim essas são duas coisas fundamentais. De nada adianta você estar usando um look bafo, mas não conseguir carregar ele, ou usar uma roupa cara que é parecida com o que todo mundo ao redor de você está usando. Pra mim look bafo é chamar atenção pra você e mostrar pra todo mundo que tu tá confortável e feliz com o que está usando, independente do que seja.

Cássia – E qual sua grande aposta pra essa temporada? Qual peça é o grande must-have do outono-inverno 2019?

Luan – Mas do que uma peça must-have eu vou jogar aqui uma tendência que tá cada dia mais forte. Pra mim o que as pessoas devem explorar é quebra das barreiras do gênero na moda. Não existe certo e nem errado. Se você olhou pra um roupa e teve vontade de experimentar, experimente! A vida é muito curta pra gente passar ela toda presos dentro do masculino ou feminino. A moda é um universo gigante a ser explorado quando você se permite experimentar, e tem muito pra te mostrar sobre a sua percepção sobre você mesmo. Mas eu admito que to bem atrás de um sobretudo (risadas).

Cássia – Pra terminar, qual dica você dá pra um brechozeiro se aprimorar ainda mais na arte do garimpo, e qual é um bom conselho pra quem ainda não faz parte, mas quer entrar pra esse clubinho?

Luan – Esteja sempre consumindo referências e aumentando o seu repertório visual de roupas e design. E, principalmente, permita-se experimentar. Garimpar bem é 100% estar consciente do que fica bem no seu corpo e do estilo que você procura passar pras pessoas. E também pense nos coleguinhas! Eu e meus amigos estamos o tempo todo trocando roupas ou comprando roupas de brechó que sabemos que o outro vai gostar, porque assim, além de você fazer um agrado para o amigo, tá jogando de volta pra cadeia de consumo uma roupa perfeitamente usável. Outra dica importante é garimpar em vários lugares diferentes! Quanto mais fontes você tiver pra procurar, melhor. Conheça e compartilhe os brechó da sua cidade.

E a primeira publicação da série “Entrevista com o brechozeiro” termina como começou: com chave e dicas de ouro.

Meu nome é Cassia Guerra, e eu sou brechozeira!

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