Olá, brechozeiros! Não é de hoje que temos consciência dos males sociais e ambientais causados pelo atual sistema de moda, né? E ainda assim, esse sistema insustentável prospera – e muito – justamente porque existe em uma sociedade que o permite prosperar. Vivemos uma emergência climática, consequência de uma indústria totalmente irresponsável. E isso já não demanda apenas uma intervenção, mas sim uma revolução da moda como um todo

Este tema ficou na nossa cabeça desde que vimos um dos vídeos de Jorge Grimberg em seu quadro 3 minutos de moda no Instagram – onde ele levanta questões sociais e políticas relevantes no sistema de Moda. Em seu vídeo ele aponta como a próxima revolução da moda será sobre “repensar e ressignificar tudo que já existe”, por conta exatamente desse cenário de irresponsabilidade que conhecemos.

E a partir disso, nos perguntamos, como podemos revolucionar a moda? Vem comigo, que te ajudo a entender!

Segundo um estudo feito pela Ellen Macarthur Foundation, apenas 12% do material usado nas roupas globalmente acaba sendo reciclado. (Fonte: ellenmacarthurfoundation.org)

Há muito tempo que esse sistema cresce e sobrevive da profunda exploração e degradação socioambiental. A indústria têxtil, como sabemos, é uma das mais poluentes atualmente. Responsável por um impacto ambiental enorme, ela perpetua um modelo de fast fashion nocivo, que por tantas vezes prospera da escravidão moderna, consumismo desenfreado e irresponsabilidade ambiental.

Mas felizmente, existem movimentos, profissionais e consumidores conscientes dos impactos causados por ela. Eles atuam ativamente em diversas frentes, com uma radical preocupação de transformar essa realidade, entendendo – da mesma maneira que aponta Grimberg em seu vídeo – que o que vestimos é um reflexo de quem somos, intrínseco à nossa identidade, e consequentemente algo político.

A moda continuamente é usada como forma de manifestação política. Vemos um exemplo disso no tapete vermelho do Globo de Ouro de 2018, onde várias pessoas compareceram usando preto em apoio ao movimento #MeToo. Ava DuVernay usando Armani - 2018 (Fonte: getty images)

Mas ainda assim enxergamos dificuldades em tomar uma atitude eficiente diante dos impactos atuais causados pela indústria da moda. Segundo uma pesquisa realizada para entender o consumidor do futuro, a empresa de previsão de tendências WGSN constatou que 90% dos participantes se sentem inseguros sobre o amanhã quando pensam na crise climática.

E mesmo com essa crescente preocupação ambiental, vemos a mudança acontecendo de forma lenta, e os danos à natureza sendo feitos em uma escala ainda maior. O problema aqui está no fato de que a maior parte das pessoas ainda enxergam atitudes sustentáveis e conscientes como algo optativo.

ENCONTRANDO UM PROPÓSITO

Há décadas que somos induzidos a reproduzir um pensamento consumista baseado numa cadeia linear. Fomos educados apenas a consumir e descartar, e nunca motivados a encontrar propósito no que não nos serve ou interessa mais.

Esse pensamento, além de gerar um enorme impacto ambiental, também faz com que tenhamos uma relação superficial com a moda, desvalorizando nossas roupas e qualquer potencial identitário que elas viriam a ter.

Diante disso apontamos duas mudanças primordiais para se arquitetar uma revolução da moda: a primeira seria repensar a maneira como produzimos nossas roupas, e a segunda como nos relacionamos com a moda, isto é, precisamos de uma real mudança de valores. E para isso adotamos uma economia circular, tanto no modelo operacional, quanto em nossos hábitos.

Segundo um relatório do Fashion Revolution de 2020, o Brasil produz cerca de 1.100.000 toneladas de roupas por ano, sendo apenas 12% de desperdícios. Fonte: HYPEBEAST “Como Priya Ahluwalia passou de recém-formada a colaboradora da Adidas

O QUE SIGNIFICA SER CIRCULAR?

 

A economia circular é um modelo econômico e social que aborda as causas profundas dos desafios globais, como mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição. Ao mesmo tempo, ela também cria oportunidades para um melhor crescimento que não se alimenta de nenhum tipo de exploração.

Ela nos leva a repensar completamente o modelo industrial linear da moda rápida, também conhecido como fast fashion. O modelo circular é baseado na ideia de extração, produção e descarte limitados, e oferece uma mudança sistêmica que permita a conservação e principalmente a regeneração de nosso planeta e seus recursos. 

DESAFIOS PARA A MODA

Para esse setor, trabalhar a partir de um sistema circular significa questionar com criatividade. Se perguntar como algo pode ser reintroduzido no mercado, trazer inovações, e eliminar a dependência de um modelo como o fast fashion ao mesmo tempo.

Uma forma muito conhecida para atingir esses objetivos é o upcycling. Para que ele aconteça, devemos produzir algo novo ou diferente a partir de peças e materiais já disponíveis. Isso faz com que a necessidade de peças e matéria prima feitas do zero caia drasticamente.

Os maiores desafios vistos estão em reutilizar resíduos têxteis como os insumos e elaborar processos 100% sustentáveis, que terminem em um produto que irá durar – tanto no aspecto material quanto no social. Apenas assim, realizaremos, de fato, a quebra da perpetuação de padrões estéticos excludentes, e consequentemente, o fim da ideia de sazonalidade que por tantas vezes desvaloriza uma roupa pela lógica do “saiu de moda”.

Mesmo dentro do varejo vemos marcas como C&A, Renner ou ZARA começando a adotar atitudes circulares, semelhantes mas não tão benéficas quanto o mercado de revenda, dando um pequeno passo no caminho da revolução da moda. (Fonte: sustentabilidade.cea)

EXEMPLOS PRÁTICOS

Temos como grandes exemplos da moda circular o mercado de revenda e brechós. Eles são caminhos muito promissores, e vêm ganhando protagonismo na indústria justamente por empregarem um sistema circular, que vai além apenas de um movimento sustentável. Atitudes como lixo-zero, upcycling, slow e eco fashion são algumas delas, mas principalemnte, eles sabem participar do meio ambiente, respeitando os limites que nosso planeta impõe.

Os brechós, ao tomar e revitalizar peças e materiais descartados, constroem uma relação mais profunda com a moda, entendendo e valorizando seu caráter cultural e político. Esses modelos mostram como podemos superar efetivamente o pensamento insustentável de “business as usual” (o negócio de sempre), implementar inovações criativas que apoiarão a transição para uma cultura regenerativa de forma ética, e dar início, então, a tão necessária revolução da moda.

OS PROCESSOS DE UMA ECONOMIA CIRCULAR

 

Trabalhando há 10 anos neste modelo, o Garimpário aparece como parte da vanguarda dessa revolução da moda. Além de participar do mercado de revenda, o brechó vê também o grande potencial que as peças e os materiais possuem, apesar de detalhes. Buscam valorizá-los, não só no processo de restauração de peças, mas também na maneira criativa com que exploram cada uma, expondo seu valor e dando significado a elas. 

Na prática, eles começam resgatando roupas e peças que seriam descartadas, e tratam cada achado, pequeno ou grande, com o devido cuidado. E tudo começa com a higienização: uma etapa de extrema importância e que demanda muita atenção e cuidado, já que ela varia de peça para peça e interfere na qualidade e conservação da roupa.

Em seguida a peça chega nas mãos da nossa restauradora e salva-garimpos, Joceli Carmen, que através de um trabalho incrível e minucioso faz uma profunda revitalização de cada peça. É uma etapa que além de envolver consertos e reparos, toma cada roupa singularmente e recupera sua qualidade e estilo únicos. No vídeo abaixo, a Joce mostra um pouquinho de cada um dos processos que ela desenvolve com tanto amor e carinho para o Garimpário.

Depois disso, para mostrar o potencial fashion de cada roupa e expô-las, temos os lookbooks, editoriais, fashion films e produções, que envolvem um grande processo criativo e trabalho técnico (envolvendo iluminação, styling, maquiagem, pós-produção, etc), sempre pensando na melhor forma de exibir a peça e explorar todos o seus atributos. Tudo sempre carregando a identidade e estética marcante do Garimpário, é claro!

No final, qualquer pessoa que consumir uma de nossas roupas irá receber um produto ressignificado, único e de alta qualidade, que não apenas segue as tendências, mas também oferece um estilo e design original resgatado. As relíquias adquiridas carregam ciclicidade e consciência nos pequenos detalhes, desde o processo de garimpo até as embalagens de papel, pensadas especialmente para evitar o descarte de plásticos no processo. 

 

RESSIGNIFICANDO O CONSUMO

 

Mas existe ainda hoje a dificuldade extrema de se implementar essa circularidade de maneira ampla no mercado de moda. Segundo o relatório “Fios da Moda”, resultado da parceria entre Modefica, FGV e Regenerate, só no Brasil no ano de 2018 foram produzidas cerca de 9 milhões de peças de roupas, passando de um total de 40 peças por habitante. Em outras palavras, de nada adianta transformar o modo como produzimos sem mudar também a forma como consumimos. A revolução da moda é, antes de tudo, uma questão social.

Protestos organizados pelo grupo Extinction Rebellion durante a London Fashion Week, para trazer consciência sobre os impactos gerados pela indústria de moda.

A consolidação do fast fashion influenciou a maneira como nos relacionamos com a moda, tanto pela falta de transparência por parte das marcas, quanto pela maneira como somos motivados a consumir freneticamente. Ela se tornou algo superficial para as pessoas, reduzida à peças de roupas, sem qualquer rastreabilidade e presas a um único padrão estético. Essa superficialidade, juntamente à falta de transparência, tornou o consumidor cego de sua participação na cadeia produtiva e, consequentemente, um cúmplice passivo dos danos causados.

Assim, vemos que ainda precisamos de uma mudança comportamental efetiva em nossa sociedade, do individual ao coletivo. E isso envolve atitudes como pesquisar sobre as marcas que consumimos, priorizar o mercado de segunda mão e revenda, preservar e descartar de maneira consciente produtos têxteis, quebrar com padrões estéticos excludentes, e democratizar o mercado sustentável, garantindo assim que ele seja acessível a todos.

O Garimpário, há 10 anos, continua trabalhando e crescendo com uma economia criativa e circular, e acredita em uma indústria da moda que valorize as pessoas, o meio ambiente e a criatividade, além apenas do lucro. E assim, carrega o propósito de fazer do planeta um lugar melhor, seja através do resgate de roupas, conscientizando as pessoas com o blog, ou expandindo a moda sustentável e o upcycling. E assim, aos poucos, o Garimpário e seus brechozeiros estão revolucionando a moda.

Se você se interessa por consumo consciente e quer mudar seus hábitos de consumo, clique aqui para conferir todos os nossos posts sobre o tema!

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Oi, meu nome é Ligia Lugnani, sou estudante de Moda e brechozeira. Apaixonada por história e pela Moda Sustentável, procuro ao máximo me aprofundar no assunto e expandir o movimento!