Olá, brechozeiros! Muita gente já nos perguntou como as nossas calças de marcas de luxo como Balmain, YSL e Pierre Cardin são originais, se elas possuem etiqueta de produção brasileira. Para explicar para vocês como é possível ser original & nacional, vamos falar sobre licenciamentos! Para entender como tudo isso começou, vamos voltar lá nos anos 30 e entender um pouco de como a moda funcionava, então pega seu café e se acomoda no sofá para conhecer a história dessas verdadeiras relíquias!

Contexto: do luxo ao prêt-à-porter

Os anos após a segunda guerra mundial (1939-1945) foram marcados por grandes avanços tecnológicos, desenvolvimento industrial e com isso o crescimento da hegemonia cultural e econômica dos Estados Unidos. Rádio e TV ajudaram a exportar e consagrar o American Way of Life (estilo de vida americano), retratado anos mais tarde por Madonna na música American Life.

Do outro lado do Atlântico, a França, que sempre foi conhecida como berço de elegância, luxo e da alta costura, mas principalmente como propriedade quando o assunto era ditar tendência, enfrentava dificuldades devido ao baixo consumo das elites no pós-guerra. Não somente, o tempo necessário para a produção de uma peça de alta costura parisiense já não correspondia à velocidade com a qual corriam o consumo e as tendências.

A historiadora Dra. Mara Rúbia Sant’Anna avalia que o perfil da nova elite francesa pós-guerra tinha origem no capital financeiro e industrial, e buscava se sobrepor culturalmente aos costumes e morais da antiga elite (de berço), colocando em xeque seu principal valor: o da elegância. A modernização era urgente para a sobrevivência da hegemonia cultural francesa.

Para as autoridades da moda, salvar a alta costura parisiense era compromisso inadiável para proteger cerca de 30 mil trabalhadoras e trabalhadores envolvidos com as casas, mas também compreendendo que o produto dessas Maisons eram mais que vestuário: eram objetos de arte que semestralmente atraiam milhares de estrangeiros, fomentando o trabalho de hotéis, restaurantes, comércio, profissionais de beleza, entre tantos outros.

A moda de luxo dos 1950’s de Christian Dior. Fonte: Harper’s Bazaar Mexico

E assim se consagra o modelo do Prêt-à-porter (pronto para vestir): como um suspiro de modernidade e inovação, velocidade de produção ampliada garantindo um produto pronto para o consumo de maneira muito mais rápida. Com o passar dos anos, as marcas da alta costura parisiense fizeram acordos para aderir a esse modelo de produção, para que pudessem se manter simbolicamente como produtoras de arte na alta costura, enquanto atendiam a um público maior e lucravam mais no Prêt-à-porter, consolidando o projeto político francês para manter-se como capital mundial da Moda.

Além da velocidade e lucratividade desse segmento, o Prêt-à-porter também é uma forma de pessoas de fora da elite consumirem o conceito e o status de uma grande marca. Saciando o desejo de consumir e pertencer gerado pela sociedade de aparências.

Mas o que são os licenciamentos?

No contexto da ditadura militar no Brasil (1964-1985), nossos mercados estavam fechados para importações. Contudo, as tendências e a influência cultural europeia e estadunidense chegavam facilmente ao desejo brasileiro. Uma grande saída para que as marcas de luxo estrangeiras pudessem ser vendidas no Brasil foram os licenciamentos. Trata-se de uma marca que solicita a licença de outra para produzir objetos utilizando seu nome.

Um grande exemplo dessa prática hoje são os produtos que trazem o Mickey Mouse, um personagem da Disney, criadora que concede licença a empresas como Pernambucanas, Riachuelo, Ellus, Havaianas dentre tantas outras, que garantem à gigante estadunidense o posto de líder em licenciamentos no Brasil.

Espaço Disney na Pernambucanas, em São Paulo. Fonte: Mercado & Consumo

Licenciamentos no Brasil: a Vila Romana e as grifes de luxo

Nós já falamos aqui no blog sobre a história de Pierre Cardin e suas peças originais, que você encontra aqui no Garimpário. No mundo da Moda, Cardin é conhecido como o Rei dos Licenciamentos: em 1987 a Folha de S. Paulo já anunciava mais de 700 licenças, em 97 países. Hoje são cerca de 800, divididas em 140 locais, que assinam além de vestuário e acessórios, decoração, utilitários e muito mais.

Pierre Cardin posa ao lado de produtos que levam seu nome. Fonte: RFI

Aqui no Brasil, a marca chegou em 1970 através de uma licença concedida à Vila Romana, do falecido empresário André Brett, que também obteve os direitos para confeccionar aqui as peças de Yves Saint Laurent, Giorgio Armani, Empório Armani, Armani Exchange, Ermenegildo Zegna, D&G, Tod’s, Canali, entre outras marcas de luxo, e que foram de grande importância para o desenvolvimento da moda masculina brasileira. Muitas delas possuem um extremo padrão de qualidade, e exigem aos seus licenciados que repliquem esse mesmo padrão ao utilizarem seu nome, como é o caso de Pierre Cardin, que por vezes veio pessoalmente ao Brasil conferir a produção da sua licenciada. Com a expansão do mercado de luxo no Brasil, algumas marcas optaram por assumir a produção de suas peças aqui, dispensando a necessidade de licenciamentos.

Relíquias de Colecionador

Como bons garimpeiros, nós encontramos essas relíquias licenciadas da Vila Romana lá em São Paulo, todas novinhas e com etiqueta! São tesouros da Balmain, Levi’s, Wrangler, Yves Saint Laurent, Pierre Cardin, Valentino, Calvin Klein e mais, com CGC na etiqueta e tudo. Por conta do tempo que ficaram armazenadas (mais ou menos 40 anos!), elas possuem algumas marcas do passar dos anos, mas, sinceramente? Isso só acrescenta ainda mais valor e personalidade a esses garimpos perfeitos, verdadeiras relíquias de luxo!

Depois de ler essa história incrível, não tem como não querer um pedacinho dela pra gente, né? E aqui você pode! Confira abaixo o nosso acervo de relíquias dessas marcas, e aproveita essa oportunidade única para garantir o seu.

Meu nome é Felipe Fonseca, sou brechozeiro convicto e estudante de Moda e História. Pesquiso principalmente história da moda, da arte e da cultura LGBT+.