Olá, brechozeiros! Se você anda pelo mundo da moda consciente, já deve ter ouvido falar de um tal de upcycling. Aqui mesmo, no Garimpário, falamos bastante sobre o assunto. Mas você sabe o que é, como ele surgiu, e qual o impacto que ele tem na moda e no meio ambiente? Vem comigo que vou te explicar tintim por tintim!

UPCYCLE, MOVIMENTO DE RESISTÊNCIA E CONSCIÊNCIA

Um grande fator do pensamento consumista que temos hoje em dia é a ideia de que tudo é rapidamente descartável, e isso se torna especialmente visível quando falamos de moda. O modelo de produção fast fashion leva esse nome justamente por ser um ciclo acelerado de tendências e produção, que torna roupas e coleções obsoletas rapidamente, nos convencendo de que as roupas velhas em nosso armário são nada mais que “lixo”.

Segundo um relatório do Fashion Revolution de 2020, o Brasil produz cerca de 1.100.000 toneladas de roupas por ano, sendo apenas 12% de desperdícios. Fonte: HYPEBEAST “Como Priya Ahluwalia passou de recém-formada a colaboradora da Adidas

Isso acaba gerando um grande problema ambiental por conta do descarte de resíduos têxteis que acabam em lixões e aterros sanitários de forma indevida,  estimando-se que o equivalente à 1 caminhão de roupas é levado para aterros ou à incineração a cada segundo no mundo, o que não só causa um impacto ambiental imenso, mas também uma perda financeira enorme. É um modelo falho e insustentável do início ao fim.

Diante disso, surgem na moda movimentos de resistência e mudança, como o Eco Fashion e Slow Fashion, por exemplo, que se baseiam em valores de responsabilidade social, ética, ambiental e cultural buscando a expansão de uma moda mais sustentável. No meio desses, encontramos o sistema de Upcycle, que surge como uma alternativa à moda acelerada, empregando a técnica de upcycling. Aqui a ideia é eliminar o próprio conceito de “lixo”, propondo uma forma de se reutilizar o material têxtil descartado, usando-o como matéria prima na criação de novas peças e roupas.

Edição 2019 da Eco Fashion Week Brasil, evento que vem crescendo cada vez mais, focado em sustentabilidade social e ambiental. Desfile da marca BEMGLÔ. Fonte: Eco Fashion Week Brasil

Apesar do conceito em si não ser algo novo, o movimento Upcycle surgiu da iniciativa do ambientalista alemão Reine Pilz em 1994, com o objetivo de tornar a maneira como as coisas são feitas (não só na moda) em um processo mais sustentável, por meio da reutilização de objetos descartados, gerando uma Economia Circular (onde produtos e materiais são mantidos em circulação por meio de uma cadeia produtiva integrada). Aplicado ao sistema de moda, a técnica de upcycling se torna extremamente interessante por ter um impacto positivo em diversos pontos da cadeia produtiva, desde a produção ao descarte. Ao utilizar resíduos como matéria-prima, o upcycling elimina completamente etapas industriais, reduzindo o consumo de recursos energéticos, poluição do ar e água, e emissões de gases do efeito estufa. Além claro de evitar que tais resíduos acabem em aterros sanitários ou lixões, o que também diminui as emissões de CO². Outro impacto positivo para a cadeia, é a própria roupa, já que uma peça que passa pelo processo de upcycling dispõe de uma qualidade superior ao produto original, ou seja, é uma roupa que durará mais, o que também leva a um impacto positivo significativo.

Compre menos, escolha bem e faça durar.
Vivienne Westwood

UPCYCLING OU RECICLAGEM?

Vale ressaltar a diferença entre upcycling e reciclagem quando estamos tentando construir o caminho mais sustentável para o futuro da moda. A técnica de upcycling, que aparece como uma solução para o sistema de fast fashion, visa repensar a maneira de se criar e consumir, e vem ganhando cada vez mais espaço e encorajando diálogos cada vez mais profundos que vão além do que apenas a “reciclagem” de roupas.

Seu grande objetivo é evitar o desperdício de materiais potencialmente úteis, utilizando o produto da melhor forma e na maior parte possível, agregando valor e significado à peça. A reciclagem em contrapartida, mesmo que carregue benefícios, nem sempre reaproveita o material em sua totalidade, e inclui muitas vezes processos químicos e físicos que acabam consumindo energia e causando certo impacto ambiental, e ainda acaba criando um produto que nem sempre terá a melhor qualidade, por conta do novo processo de produção a qual é submetido. Em outras palavras, a roupa muitas vezes sofre um processo de downcycling, na qual perde valor.

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), se gastam cerca de 7.500 litros de água para se produzir um único par de jeans. Fonte: Garimpário Brechó Online
Coleção Primavera 2017, “Boulevard of Broken Dreams” da marca Viktor & Rolf, feita a partir de upcycling, com peças e retalhos de coleções passadas. Fonte: vogue.com

A reciclagem envolve sim uma consciência ética e ambiental, mas ainda é uma ideia rasa. Enquanto isso, o Upcycle reforça o conceito popular dos 3 R’s, de reduzir, reutilizar e reciclar, mas dá um passo além, contribuindo para a construção de uma Cultura Regenerativa, onde o foco é restaurar, renovar e revitalizar nossas fontes de energias e materiais, criando sistemas profundamente sustentáveis. Para mais, também é uma forma mais barata de se produzir, já que anula os gastos para se extrair e processar matéria prima. Por conta disso, o upcycling é muitas vezes considerado a alternativa mais sustentável e lucrativa para os resíduos têxteis gerados pela indústria da Moda.

O POTENCIAL CRIATIVO DO UPCYCLING

Além de ser um ato sustentável, o Upcycle também é uma maneira criativa de nos relacionarmos com a moda. É uma forma de ressignificação inovadora, que combina elementos artísticos e de costura que culminam em uma peça única, quebrando com outra falha do modelo de fast fashion, a padronização e homogeneidade estética. Seguindo um molde industrial, o fast fashion trabalha com uma produção em massa de tendências que estão sempre em rotatividade, entrando e saindo de moda, tornando roupas e estilos “ultrapassados” e  “obsoletos”. É um sistema que reproduz valores globalizados e ignora um dos maiores potenciais da moda: ser uma forma de expressão e individualidade.

Transformar através do upcycling, além dos incentivos ambientais, é propor que cada peça seja feita e pensada de maneira original, podendo envolver técnicas artesanais, integrando cultura, trazendo um novo conceito à roupa, criando um produto completamente novo e exclusivo. Essa qualidade criativa oferecida inclusive tem levado a técnica a se popularizar em plataformas como TikTok ou Instagram, e cada vez mais as pessoas têm valorizado e se conscientizado sobre o potencial de suas roupas, aderindo ao movimento.

Além dos inúmeros vídeos de DIY, vemos também o upcycling já há anos sendo praticado por marcas de brechós, que buscam sempre revitalizar roupas e acessórios através dos mais variados processos de reforma e customização (como rework e patchwork), conservando a história de cada peça e reintroduzindo-as ao mercado de forma sustentável. E mais recentemente, vem chegando em marcas de alta costura, como a grife holandesa Viktor & Rolf, e marcas grandes como Miu Miu, Balenciaga, e outras que também têm se inspirado na prática.

A mudança começa aos poucos

O movimento de Upcycle sozinho não é a solução para todos os problemas que enxergamos hoje na indústria, mas com certeza carrega um grande potencial para mudanças, melhorias e criatividade, não só promovendo uma economia circular consciente, mas também proporcionando originalidade e inovações através da ressignificação de roupas, e se faz cada vez mais necessário para o futuro da moda. É um movimento em ascensão que devemos reconhecer, valorizar e investir.

Aqui no Garimpário, nós temos o upcycling como uma das nossas maneiras de ajudar o meio ambiente e cumprir a nossa missão: fazer do planeta um lugar melhor. A Joceli Carmen, nossa super salva garimpos e mãe da Manu, ajuda a gente nessa missão há alguns anos, reaproveitando peças, retalhos e aviamentos de garimpos que não puderam ser recuperados, os transformando em peças novas e maravilhosas. Alguns exemplos são as mochilas, gravatas e chapéus de crochê que você encontra aqui no site. Clique aqui para ler o post do nosso blog sobre o trabalho lindo da Joce!

E também temos a Urbana Custom, marca local que realiza o trabalho de upcycling em jeans, e produz peças lindas como o bucket hat e a mochila saco em patchwork, que vocês também podem garantir abaixo.

Além de apoiar o comércio local, você ajuda o planeta em dobro, com uma peça que vai ter um ciclo de vida longo, não incentivando a compra de uma nova, e retirando uma peça da estatística do descarte. É apenas, tudo, né?! Afinal, estar na moda é ser consciente e a tendência agora (vocês já sabem), é ser brechozeiro! 🧡

Se você se interessa por consumo consciente e quer mudar seus hábitos de consumo, clique aqui para conferir todos os nossos posts sobre o tema!

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Oi, meu nome é Ligia Lugnani, sou estudante de Moda e brechozeira. Apaixonada por história e pela Moda Sustentável, procuro ao máximo me aprofundar no assunto e expandir o movimento!